ATA DA NONAGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO ORDINÁRIA DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 01.09.1987.

 


Ao primeiro dia do mês de setembro do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Nonagésima Terceira Sessão Ordinária da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que fossem distribuídas em avulsos cópias da Ata da Nonagésima Segunda Sessão Ordinária que deixou de ser votada em face da inexistência de “quorum”. À MESA foram encaminhados: pelo Ver. Ennio Terra, 01 Pedido de Providências solicitando poda de três árvores no passeio da Av. Deputado Aramis Silva nº 181, no Bairro Medianeira; pelo Ver. Jaques Machado, 02 Pedidos de Providências, solicitando troca de lâmpada na Rua Álvares Cabral, defronte ao nº 52 ou 56; conserto da calçada na Rua Castro Alves, defronte ao nº 317; pelo Ver. Nilton Comin, 03 Pedidos de Providências, solicitando poste de iluminação e luminária na Rua Prof. Guerreiro Lima nº 1137; limpeza e intimação do proprietário do terreno abandonado na Rua Picuari, 52, com depósito de lixo e focos de moscas, mosquitos e baratas; fechamento de um buraco que poderemos chamar de cratera, tal o seu tamanho, no cruzamento das Ruas Prof. Guerreiro Lima e Padre Tedesco. Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios nºs. 002/87, da Senhora Presidenta do Conselho Regional de Biologia - 3ª Região; 352/87, da Assembléia Legislativa de João Pessoa - PB; 468/87, da Câmara Municipal de Araguaína - GO; 500/87, do Secretário da Segurança Pública. Em COMUNICAÇÃO, o Ver. Cleom Guatimozim, comentando visitas que têm sido feitas pelo Dr. Alceu Collares à Casa, para prestar esclarecimentos sobre sua administração frente a Prefeitura Municipal, disse que S.Exa. comparecerá novamente amanhã, às quatorze horas, para debater o Projeto Praia do Guaíba. Discorreu sobre posicionamento que estão sendo tomados quanto a este projeto, por várias entidades representativas do Município e do Estado, salientando ser a maior parte da população porto-alegrense favorável ao mesmo. O Ver. Kenny falou sobre o livro “O Tenente Vermelho”, de autoria do Capitão José Wilson da Silva, que rememora acontecimentos do início da década de sessenta, atentando para alguns fatos ali narrados, como o recebimento, pelos Senhores Leonel Brisola e Darcy Ribeiro, de quinhentos mil dólares, de Cuba, para serem usados na manutenção de exilados em Montevidéu e para um financiamento de guerrilhas contra a ditadura militar, questionando os reais objetivos desta publicação no momento em que cresce a popularidade do Sr. Leonel Brizola junto à população, como candidato á Presidência da República. O Ver. Frederico Barbosa teceu comentários sobre o estado precário em que se encontra a Estrada Lami-Belém Novo. Discorreu sobre os problemas enfrentados pela comunidade do Lami, salientando os prejuízos acarretados pelas poucas condições de funcionamento apresentadas pelo posto de saúde do local, sem a presença de um médico para o devido atendimento da população. O Ver. Ennio Terra comentou a possibilidade de extinção do SESI, declarando-se contrário à idéia em face dos benefícios trazidos por essa instituição para o aperfeiçoamento da mão-de-obra, possibilitando a categorias mais pobres maiores oportunidades de emprego. Dizendo que o SESI não acarreta despesas para o Governo, salientou sua estranheza frente a um possível fechamento do mesmo. Discorreu sobre as “Casas da Criança” que serão construídas em Porto Alegre para o atendimento do menor carente da Cidade. O Ver. Caio Lustosa discorreu acerca das dificuldades enfrentadas pelas comunidades indígenas brasileiras, dizendo estranhar posições assumidas pelo Ministro Paulo Brossard, contrárias a reivindicação de que estas comunidades sejam consideradas como nações diferenciadas, reivindicação esta classificada por aquele Ministro como conspiração contra a unidade nacional e o patrimônio mineral do País. E o Ver. Jorge Goularte falou de Projeto de Lei de sua autoria, vetado pelo Ver. Alceu Collares, que cria centros integrados de atendimento social nos bairros mais pobres do Município, congratulando-se com o Prefeito Municipal por ter modificado sua decisão e, hoje, declara-se favorável à idéia. Disse que encaminhará, no período regimental, a reapresentação deste projeto para que centros possam ser implantados na Cidade. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Flávio Coulon cumprimentou o Ver. André Forster, por conseguir a revogação de Resolução do Conselho de Tráfego do DAER, que aumentava em trinta por cento o valor das passagens dos ônibus intermunicipais da Grande Porto Alegre, entre o horário das vinte e três horas e trinta minutos e quatro horas e trinta minutos. Comentou notícia veiculada pelo Jornal Zero Hora, de que em trinta meses Porto Alegre teria seu Teatro Municipal, atentado para a demonstração de autoritarismo observada na questão, tendo em vista ser medida quase que exclusivamente do Executivo Municipal sem uma maior participação deste Legislativo e da população porto-alegrense. O Ver. Hermes Dutra atentou para o fato do Executivo Municipal não se pronunciar acerca de qualquer reajuste ao funcionalismo público, destacando a necessidade deste reajuste, em vista da defasagem salarial sofrida por estes servidores. E o Ver. Kenny Braga reportou-se ao pronunciamento de hoje, do Ver. Dutra, acerca da necessidade de reajuste do salário dos servidores municipais, dizendo que o PDT reconhece o direito destes funcionários a um aumento salarial mas destacando que seu Partido possui um compromisso de desenvolvimento com toda a população porto-alegrense e não apenas com os funcionários municipais. Durante os trabalhos, o Sr. Presidente comunicou da realização amanhã, às quatorze horas, de Sessão Especial para, nos termos dos artigos 199 e 200 do Regimento Interno, ouvir o Sr. Prefeito Municipal acerca do Projeto Praia do Guaíba e informou da realização, logo após a presente Sessão, de Reunião conjunta de Comissões para análise de Projetos de Lei em tramitação na Casa. Às quinze horas e cinqüenta e seis minutos, nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente levantou os trabalhos convocando os Senhores Vereadores para as Reuniões das Comissões Permanentes e convidando-os para a Sessão Solene, a seguir, destinada à entrega do título honorífico de Cidadã Emérita a Sra. Rose Marie Reis Garcia. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Brochado da Rocha e Teresinha Irigaray e secretariados pelos Vereadores Frederico Barbosa, Jaques Machado, Rafael Santos e Pedro Ruas, os dois últimos como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Frederico Barbosa, 2º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidentes e 1ª Secretária.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha): Passamos às

 

COMUNICAÇÕES

 

A Vereadora Gladis Mantelli cede seu tempo à Vereadora Teresinha Irigaray, que faz uma troca com o Ver. Cleom Guatimozim.

Com a palavra, o Ver. Cleom Guatimozim.

 

O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, para conhecimento do Plenário, informo que não estou usando o tempo da Bancada do PMDB, mas foi uma troca que fiz com a Vereadora Teresinha Irigaray.

O Sr. Prefeito Municipal, usando de tutela regimental, tem comparecido a esta Casa, para prestar esclarecimentos, espontaneamente, da sua administração. Outros prefeitos, que antecederam o atual, estiveram também nesta Casa, prestando esclarecimentos a respeito das administrações de que eram titulares. Seguindo esta linha e até alargando este horizonte, o Prefeito Alceu Collares aqui comparecerá para fazer uma explanação sobre o Projeto que foi denominado, pela imprensa, de “Projeto Praia do Guaíba”. Este Projeto será encaminhado a esta Casa e V.Exa. teve a oportunidade através do órgão Executivo de debater com diversos segmentos da sociedade. Ora, não se pode esperar, ninguém pode esperar que um projeto, por mais perfeito que seja, possa ter o apoio total da comunidade e seus segmentos ou ainda o apoio total desta Casa porque nesta Casa temos as representações dos mais diversos segmentos políticos, ideológicos, sociais, culturais e até religiosos. Essas linhas, seguidas pela administração, encontram naturalmente as oposições que lhe são feitas por esses segmentos num legítimo direito, um direito legítimo de representação no que se refere a esta Casa. Não poderia esperar o Sr. Prefeito Municipal que o Projeto Praia do Guaíba, que é avançadíssimo, tivesse já, desde o início, o apoio dos próprios arquitetos, eis que aquela categoria reclamou que o projeto foi feito por um único arquiteto, quando, quem sabe, no entendimento da categoria, deveria ser realizado em conjunto por um número maior. Nos debates que foram realizados a respeito desse Projeto não poderiam deixar de surgir os mais diversos tipos de restrições, mas o todo, o bolo, a massa, o total, é ampla e largamente favorável porque não poderia um governo eleito diretamente, no caso, o Prefeito Municipal, colocar em execução um projeto onde a massa estivesse contrária, onde não apenas segmentos intelectuais, mas a massa estivesse contrária.

 

O Sr. Flávio Coulon: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Ver. Cleom Guatimozim, gostaria de dizer, a título de esclarecimento, da minha parte, que tenho acompanhado este projeto com bastante interesse, pelo que eu estou sentindo, eu não estou sabendo das coisas. Eu gostaria de saber qual foi a pesquisa de opinião pública que foi realizada? Quais são os dados concretos que V.Exa. se baseia para dizer que a massa está francamente favorável a este projeto? A este estudo?

 

O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Baseio-me, Vereador, nos mesmos princípios que V.Exa. se baseia para dizer que a massa não está favorável...

 

O Sr. Flávio Coulon: Eu não disse isso.

 

O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Veja que a imprensa, através de todos os seus meios de comunicação social, tem levado ao conhecimento este projeto, eis que quando um projeto não agrada, quando uma idéia encontra oposição na massa, já, imediatamente se sente o fenômeno, que começa desde o Correio do Leitor de cada jornal. É a movimentação, não daqueles nomes conhecidos. Nós temos nomes conhecidos aí, que escrevem diariamente nos jornais, dirigem de forma lírica a cidade através de idéias que nunca serão postas em execução porque não dispõem do poder, mas eu me refiro certamente a este movimento de massa, este movimento que o povo toma conhecimento através de grandes órgãos de comunicação que atingem o seio do povo como é o rádio, por exemplo.

 

O Sr. Caio Lustosa: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Ver. Cleom Guatimozim, em primeiro lugar, uma ressalva, V.Exa. fala do Projeto Praia do Guaíba, o Prefeito disse que não existe este Projeto numa audiência que nós tivemos com ele e mais trinta associações. Ele diz que há apenas um estudo de viabilidade, que não existe este Projeto. Em segundo lugar, esta questão de opinião pública, as formas de se fazer estas pesquisas podem, inclusive, induzir a uma opinião favorável desde que os dados fornecidos a quem é questionado, a quem é pesquisado sejam dados que favorecem a opinião afirmativa. Agora, eu tenho a impressão que no momento em que a população de Porto Alegre for questionada, as diversas classes: A, B, C ou D, do real conteúdo desse estudo e viabilidade desse Projeto, como, por exemplo, se ele concorda com a criação de uma marina para os barcos de luxo, com um “shopping center” para a população de alta renda, de um hotel de cinco estrelas, residências de condomínio fechado ali naquela área, eu acho que esta pesquisa vai ter um resultado bastante diferente do que o Executivo está aguardando. Naturalmente ninguém é contra o aproveitamento daquela área, ninguém está questionando isso, mas o próprio fato de se ter feito um contrato preliminar com um só escritório de arquitetura, o Escritório Debiagi, e dar a esse escritório o privilégio de fazer todos os contratos futuros sobre o aspecto urbanístico, paisagístico, a comercialização de todas as éreas inclusive o poder de gerir o espaço público. Esse poder de gerir o espaço público é um elemento altamente significativo para a população se manifestar.

 

O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Vereador, eu respeito a sua colocação e a sua sinceridade, mas veja V.Exa. que se abrirmos a Bíblia vamos encontrar a palavra diabo o tempo todo mas nem assim vamos achar que a Bíblia só trata do diabo. Nós temos que ver é o mercado de trabalho que será aberto com todas essas construções...

 

O Sr. Caio Lustosa: V.Exa. permite interrompê-lo, mas esse engodo do mercado de trabalho a população também já recebeu em tempos passados. Quando se fez o Pólo Petroquímico, o Governo Amaral de Souza, inclusive com o apoio de dirigentes até do atual Governador, um dos arautos do Pólo, se alegraram porque o Pólo Petroquímico iria gerar 65 mil empregos diretos e indiretos. Até agora o Pólo Petroquímico não gerou nem 10 mil empregos. Quando se lançou a idéia do Projeto Rio Guaíba, aquele que iria tornar o Guaíba balneável, despoluído e tudo mais, também, se alegou a criação de empregos e até hoje eu não sei que empregos foram gerados porque o desemprego nesta cidade é flagrante.

 

O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Mas V.Exa. disse que o Pólo Petroquímico gerou 10 mil empregos, já gerou alguma coisa então. Mas tem outros aspectos que a população deve ser consultada que não esses que V.Exa. colocou. V.Exa. escolheu na Bíblia o nome do diabo, mas de qualquer forma, nesta Casa, o Projeto será debatido. Vejam que, talvez, tenha sido mal colocado na Imprensa - me causou surpresa - alguns Vereadores, entre os quais V.Exa., Ver. Caio Lustosa, teriam solicitado ao Prefeito que o Projeto não tramitasse rapidamente nesta Casa. Mas o Prefeito não tem ingerência nenhuma nesta Casa, esta Casa compete a nós, Vereadores. O Prefeito manda para cá e nós poderemos aprová-lo ou rejeitá-lo, ele não tem ingerência.

Eu concluo dizendo, Sra. Presidente e Srs. Vereadores, que considero respeitável a posição dos dois Vereadores que me apartearam e de outros que têm colocação contrária a este grande Projeto da administração do Socialismo Moreno desta Cidade e que terá a oportunidade de tramitar nesta Casa e ser discutido e debatido por todos. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Teresinha Irigaray): Com a palavra, o Ver. Kenny Braga pelo tempo que lhe cede o Ver. Getúlio Brizolla.

 

O SR. KENNY BRAGA: Sra. Presidente e Srs. Vereadores, todas as pesquisas de opinião séria que se realizam, neste país, inclusive as poucas pesquisas sérias feitas pela Rede Globo de Televisão dão conta que o Sr. Leonel de Moura Brizola é o nome mais forte, politicamente, para concorrer à Presidência da República nas eleições de 1988 que vira-o irremediavelmente. Pois, no momento em que cresce o nome de Leonel Brizola no conceito da opinião pública brasileira, que conhece o seu passado, nome profundamente vinculado à causa do nacionalismo e de independência econômica deste País, aparecem, simultaneamente, problemas, percalços, armadilhas, na tentativa vã de bloquear ou impossibilitar a chegada do companheiro Leonel Brizola à Presidência da República. Seguidamente vêem-se os militares brasileiros manifestando-se sobre temas que não são da sua competência. Dizem que não aceitariam a vitória de Leonel Brizola, como se coubesse aos militares dizer o que é bom, o que é melhor para a esmagadora maioria do povo brasileiro. Seguidamente plantam-se nos jornais opiniões de caserna, caserna entre aspas, que não têm identidade pessoal, dizendo que Brizola seria vetado em função da sua pessoa do passado, e sobretudo em decorrência da sua atuação nítida, séria, retilínea, em favor dos melhores reclamos do povo brasileiro.

Pois agora surge de parte de um companheiro do PDT, um livro intitulado “O Tenente Vermelho”, de autoria do Capitão José Wilson da Silva, da reserva, editado pela Editora Tchê. O livro, entre outras coisas, rememora acontecimentos ocorridos na década de 60, quando dezenas de brasileiros, banidos pela ditadura, pela tortura e pela violência que instalaram neste País, na tentativa de preservaras suas vidas, cruzar as fronteiras e foram se asilar em Montevidéu, Uruguai. Mas, em meio a essas memórias, o Sr. José Wilson da Silva, que se diz integrante e militante do PDT, afirma, relembra que os companheiros Brizola e Darcy Ribeiro teriam recebido duas parcelas de quinhentos mil dólares de Havana, Cuba, de Fidel Castro, para serem usados na manutenção de exilados em Montevidéu e para um financiamento de guerrilhas contra a ditadura militar de 1964. Não sou - e jamais serei - a favor da censura de livros, jornais ou de revistas. Seria um absurdo, um contra-senso, na medida em que faço de livros e jornais, diariamente, o material indispensável de meu trabalho, como Vereador e como universitário. Mas, homem lúcido e politizado que sou, me obrigo a fazer perguntas em voz alta para reflexão deste plenário. A quem serve, neste momento, a publicação do livro “O tenente vermelho”, do Sr. José Wilson da Silva? Será que esse cidadão despertou subitamente para a literatura e sentiu o impulso do memorialista tal como Pedro Nova? Será que está a serviço da cultura e da abertura democrática? Será que ele está a favor do crescimento do PDT?

 

O Sr. Jorge Goularte: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) V.Exa. disse que o Ten. Wilson da Silva se diz representante do PDT. Quero-lhe corrigir: V.Exa. é muito jovem e não conhece a política de anos passados. Mas, ele é um velho militante do PTB. Somente uma pessoa com ligações muito estreitar com o Sr. Brizola poderia ter esses conhecimentos que o Sr. Wilson da Silva tem. Ele foi candidato a vereador e a deputado, aqui, em Porto Alegre e é um antigo militante do PDT. Se não fosse alguém muito ligado ao Sr. Brizola, jamais teria esses dados verdadeiros ou não. Sou grato.

 

O SR. KENNY BRAGA: Ver. Jorge Goularte, sou jovem, mas já vivi o suficiente para saber que o regime militar brasileiro torturou , baniu e matou centenas de patriotas. Não precisa ser velho para saber disso. Mesmo que fosse jovem, teria acesso aos livros e ao conhecimento da História. Por isso, manifesto essas minhas reflexões.

 

O Sr. Jorge Goularte: Segundo consta, ainda, ele teria pertencido ao PDT, já naquela época, antigo PTB.

 

O SR. KENNY BRAGA: Quero manifestar, aqui, a minha estranheza e a minha preocupação em relação ao lançamento deste livro no momento em que cresce a candidatura de Leonel Brizola no conceito da opinião pública brasileira. Tudo leva a crer que esse cidadão está envolvido numa grande manobra, na tentativa de intrigar o Sr. Leonel Brizola com as Forças Armadas Brasileiras, remexendo assuntos do passado que não interessam absolutamente, a não como fatos da História. Acho, porém que se o Sr. Leonel Brizola recebeu dinheiro de Cuba, bem como o Darcy Ribeiro, é necessário dizer que receberam dinheiro de Cuba, até porque existe algo que se chama solidariedade socialista. Existe a solidariedade dos perseguidos, dos ofendidos e dos humilhados da terra. Quero lembrar que, quando se deu o golpe de 64, no Brasil, havia, na Costa Brasileira, barcos cheios de fuzileiros navais para intervir no processo. Era a solidariedade dos americanos, era a solidariedade do dólar, do empreguismo. Se existe a possibilidade desse tipo de intromissão interna nos interesses dos assuntos brasileiros, admito perfeitamente que exista a intromissão do outro lado - do lado socialista, do lado em que estava morto o progresso e a liberdade. Então, se houve essa remessa de dinheiro, que se fale abertamente, como também vamos falar abertamente que os militares brasileiros deram o golpe de 64, derrubando um governo legitimamente eleito com a ajuda das forças armadas norte-americanas. Não há, portanto, o que se negar dos fatos da História. Mas me causa surpresa que esse livro seja lançado no momento em que Brizola se candidata e que esse cidadão José Wilson Silva se debruce a favor do livro, lançado agora, neste momento, e que estes cidadãos se encanzine a favor da sua obra, do livro, dos interesses da editora, passando por cima dos interesses do PDT, para consagração e crescimento da candidatura de Brizola a Presidência da República.

 

O Sr. Caio Lustosa: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Não li o livro do Tenente Vilson da Silva, nem tenho poderes para defendê-lo, mas pelo que ouvi de comentários, ele em momento algum na sua obra declara que tenha havido apropriação ilegítima destes recursos ou emprego menos digno, senão aquele de mobilizar a resistência e a ditadura com esses recursos. Isto inclusive já foi questionado pela imprensa, o autor do livro, o Tenente Vilson, e ele diz que em momento algum ele sustenta que tenha havido delapidação ou mau emprego dessas verbas, quer por parte do governador Brizola, quer por parte do escritor e antropólogo Darci Ribeiro. E quanto às manobras das Forças Armadas, quero lembrar que neste momento o UNITAS 4, ou 5, está fazendo manobras na Baia da Guanabara em conjunto com as Forças Armadas do Brasil.

 

O SR. KENNY BRAGA: E se o Sr. Wilson José da Silva tem capacidade para escrever um livro, ele também deve ter capacidade de saber, de vislumbrar que este material será vigorosamente vinculado à imprensa burguesa, contra o Sr. Leonel de Moura Brizola. Está fazendo um serviço de quinta coluna dentro do PDT. O trabalho deste cidadão será, certamente, o livro mais badalado, mais promovido da televisão brasileira, pelas redes globos da vida, que têm interesse em incompatibilizar o Sr. Leonel de Moura Brizola com as Forças Armadas.

 

O Sr. Hermes Dutra: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Ver. Kenny Braga, eu cometeria uma injustiça, não com V.Exa., mas com meu espírito de amor à verdade, se dissesse que V.Exa. está sofismando, e está usando dois pesos e duas medidas, que V.Exa. não é homem disso. Mas sou obrigado a dizer que V.Exa. incorre num engano. É aquela velha história de que quando as coisas são a nosso favor valem, mas que quando não são a nosso favor não valem. Confesso que não li este livro, mas esta história dos dólares enviados por Cuba... Há um outro guerrilheiro que, também, fez um outro depoimento gravado. Acho que isto pertence ao passado. Acho que não vale a pena revolver. Eu sou um que sou adversário do seu Gabriel, não vou usar uma coisa dessas. O que eu acho, Ver. Kenny Braga, é que não podemos estar taxando todo o mundo de não prestar, só porque conta um fato que, a juízo dele, é uma verdade histórica. Eu confesso que até tenho certas dúvidas. Mas acho muito perigoso caminharmos para esse rumo de impedir que as pessoas dêem a sua versão dos fatos e veja que ele foi um partícipe. Esse foi um partícipe dos fatos.

 

O SR. KENNY BRAGA: Sou grato pelo aparte de V.Exa., inteligente, mas, continuo afirmando que esse cidadão está, prestando um desserviço ao PDT e a candidatura de Leonel Brizola à Presidente da República. É um ponto de vista meu.

 

O Sr. Ennio Terra: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Analisando o que disse o nobre Ver. Jorge Goularte de que V.Exa. é jovem. É verdade, mas, como V.Exa. é um homem esclarecido e sabe muito bem a respeito da política nacional e mundial, quero dizer a V.Exa. que foi o único militar que veio do exílio e foi promovido a capitão e andava fardado pelas ruas de Porto Alegre. Talvez V.Exa., que é jovem, desconheça isso.

 

O SR. KENNY BRAGA: Para encaminhar o final do meu discurso, Verª. Teresinha Irigaray, com a sua condescendência, queria dizer o seguinte: os companheiros também têm responsabilidade com a condução do Partido. O individualismo dos companheiros não pode sobrepor a força e a organização do Partido. O individualismo estreito dos companheiros não pode sobrepor a importância maior do Partido. Esse cidadão, com seu individualismo pequeno-burguês está colocando em jogo, com sério risco, muitas coisas importantes que estão por trás da candidatura de Leonel Brizola e que compõem a candidatura de Leonel Brizola a Presidente da República. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: O próximo orador inscrito é o Ver. Frederico Barbosa V.Exa. tem o tempo regimental.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: Sra. Presidente, Srs. Vereadores, acabo de chegar, coisa de 10 min atrás. Para conseguir fazer o trajeto Lami a esta Câmara, levei 35 min. Evidentemente, para que este trajeto fosse vencido em 35min, tive que passar pelos mais variados buracos da Estrada Lami - Belém Novo que até agora, provavelmente, nenhum Secretário do Município ou o Prefeito passaram por lá, porque senão, não teria feito as verdadeiras loucuras que fiz para chegar até aqui. Com as verdadeiras crateras que estão lá à mostra para quem quiser ir ao Lami. Mas cheguei, Ver. Flávio Coulon. Depois do discurso que fiz com referência ao posto de saúde para o Lami.

Há a expectativa da população de um posto de saúde. Consegui almoçar e visitar o local do “futuro” posto de saúde. Tendo feito um discurso, como V.Exa. ouviu, fui examinar como está a situação daquela localidade. Vou dizer como está a situação: a sala com mais de 20 metros quadrados, com azulejo de 1.80m, com entrada para o corredor, desde que quando este Vereador era Secretário da Educação do Município, está à disposição. Hoje contendo apenas três classes com piso frio e, certamente, - sem ser técnico em saúde pública - posso afirmar em que em condições de ser o posto de saúde para o Lami.

 

O Sr. Flávio Coulon: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Ver. Frederico Barbosa, tão logo V.Exa. conclui o seu pronunciamento, entrei em contato com a Secretaria da Saúde, Realmente o Lami é um dos problemas que está em estudos lá dentro. A pessoa que me atendeu colocou uma série de razões e eu pedi que o fizesse por escrito, para que eu pudesse trazer a V.Exa., um dos problemas que estamos enfrentando lá é a baixa remuneração paga pelo Estado aos médicos, o que nos impede que até se consiga que um médico fique duas manhãs no Lami, segundo a informação, pois ele gastaria mais com combustível para chegar até lá do que ele ganharia como médico. Mas eu recebi a promessa de que viriam todas as explicações para V.Exa. e, inclusive, haveria um retardamento nesta resposta, no sentido de que ela já chegasse positiva com a designação de um médico para aquela localidade.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: Agradeço a V.Exa. e afirmo, inclusive em favor do que V.Exa. está dizendo, que já passaram por lá comissões da Secretaria da Saúde para estudar o local. A diretoria me afirmou agora que explicou à última Comissão que lá esteve e tudo o que foi feito, inclusive invocando o meu nome, e porque que aquela sala foi destinada. Agora relato a V.Exa. o porquê da urgência: 350 crianças não estão fazendo Educação Física por ordem da Diretora, por um único motivo, não há médico. Nenhuma criança teve um teste obrigatório para exercício físico e as crianças, por orientação da Diretora, estão recebendo apenas recreação com o professor de Educação Física, porque, evidentemente, são crianças vindas do fundo do Lami. São os filhos de lenhadores, filhos de pessoas carentes que, não passando por um teste mínimo, necessário, não pode a responsabilidade de uma Escola permitir que estas crianças realizem a sua Educação Física no sentido de exercício físico. Esta é uma das preocupações da urgência, Vereador, são 350 crianças. Além disso, tive um depoimento de que uma pessoa se dirigiu à Escola com problema de infecção em uma das pernas, e a Diretora, não tendo condições de avaliar, só conseguiu dar dinheiro e pediu que a pessoa apanhasse um ônibus e seguisse para Belém Novo e tentasse encontrar um médico. É assim que se encontra a situação do Lami, hoje. Aqueles que me acompanhavam, são até, vamos dizer, da elite do Lami, ou seja, pessoas que têm Casa num local acessível, diante da faixa, diante da estrada e automóvel, mas aquelas pessoas que vivem lá no fundo do Lami, no mato, trabalhando para, sobreviver, estas não têm nenhuma condição. Eu, pessoalmente, já tinha assistido, quando Secretário da Educação, há dois anos atrás, acompanhando quase que semanalmente a obra, chegam pessoas, como vi uma vez, com a mão que era, simplesmente, um membro irreconhecível, dado ao inchume e ao problema que ocasionava e não havia médico. Já disse a V.Exa. que Governos anteriores também não resolveram isso como deveriam ter sido resolvido. Hoje pela manhã, de lá telefonei, e autorizei o ofício que estava aqui, no meu gabinete, assinado e que fosse protocolado no gabinete do Secretário Antenor Ferrari, dando ciência, delicadamente, de que o assunto já era do conhecimento do Sr. Secretário substituto, e não fazendo nenhuma alusão a problemas de tempo, etc., porque volto a frisar: a grande preocupação é com médico e fui informado que há condução da Secretaria da Saúde que, duas vezes por semana, cruza pelo Lami indo para Itapoã e levando médicos para lá. Volto a dizer que esta foi a informação que me foi passada, portanto é de se checar e saber, exatamente, o que está ocorrendo, mas num S.O.S Lami Urgente, porque o assunto do médico é, realmente, muito importante para aquela população.

 

O Sr. Flávio Coulon: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Estive pensando nesse assunto e me valho do seu conhecimento sobre aquela zona. Não existe um médico que lá more e trabalhe?

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: Existe um médico que lá mora e que atende grande parte daquela população. É um homem vinculado à área, inclusive é o Presidente do Movimento Comunitário de Belém Novo, fora o posto que lá existe, e sobre o qual não saberia dizer como está funcionando. E se o posto de Belém Novo não funciona tão bem, conforme o desejaríamos, pelo menos ele fica com o problema mais encoberto, pelo fato de existir médico que lá reside, que conhece todo o mundo, basta dizer que foi eleito representante da comunidade na grande Associação que representa a população. Só não sei dizer a V.Exa. que é um homem que possa estar à disposição, pois sei que tem plantões aqui no centro da Cidade, etc...

 

O Sr. Flávio Coulon: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Qual é a população estimada do Lami?

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: O grande problema da população do Lami é que ela está escondida. Nós conseguimos visualizar ali cerca de mil casas, mas, na verdade, a população é muito espalhada e está, principalmente, dotada dos grandes problemas daqueles carentes que estão no mato, daqueles que fazem o dia a dia com o salário mínimo da sobrevivência, através da ajuda em olarias, em outros sítios, na Avipal, etc. Mas quero dizer que, a bem da justiça, faço esta ressalva de que V.Exa. está empenhado neste trabalho e que, certamente, vai ajudar muito a população. Quero dizer, também, que levei cópia do seu aparte, para mostrar que V.Exa. estava se manifestando, não em nome do Executivo, porque sei das dificuldades que tem em resolver os problemas rapidamente, mas que V.Exa. estava, como homem público que deseja solucionar o problema, tentando ajudar aquela comunidade.

 

O Sr. Flávio Coulon: O que eu posso lhe garantir é que, hoje mesmo, tentarei resolver, pelo menos, o problema destas 350 crianças. Que passe um médico lá que as libere para que façam educação física, pelo menos.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: E posso lhe garantir que, além do auxílio que V.Exa. daria, eu tenho outra preocupação, que V.Exa. poderia expor à Secretaria da Saúde: é que esta sala continua vazia. Daqui a pouco, haverá, certamente, necessidade de ocupá-la, porque ela não pode continuar sem uso durante muito tempo, pois não é uma escola que possa abrigar a todos. E ela é o ideal, porque tem uma porta que pode simplesmente ser fechada - e não o fiz à época, em 85, aguardando a disposição da Secretaria da Saúde em resolver o problema. Esta mesma porta, sendo aberta 2 metros mais á frente, dará saída e entrada do posto sem ingresso na escola, evitando contaminação, etc. Assim, também, existe outra porta, que dá ingresso à escola e esta poderá ser usada somente quando estão sendo examinados os alunos. Portanto, a não ser que esteja errado, tudo me parece ideal para o local, muito carente, que encontra à disposição uma sala que só melhorada se a Secretaria tivesse condições de construir um real posto de saúde com todas as necessidades de um verdadeiro posto de saúde, o que acho difícil, pois sabemos como estão os postos de saúde do Estado também. É um apelo dramático que faço para que possamos resolver esse problema em conjunto, mas para que a população tenha solucionado esse problema.

Para outro discurso reservo algo de novo para a CRT, onde enxerguei na parede escrito o seguinte: “local reservado para o orelhão prometido pela CRT”. Lá está pendurado na orelha vermelha do antigo orelhão comunitário que foi retirado com a promessa da CRT de instalar. Protocolei hoje, e autorizei pelo telefone para o Dr. Alcione Cruz Filho, um ofício explicando o que aconteceu anteriormente na outra administração e solicitando imediatas providências.

Ao Prefeito Municipal e aos buracos o agradecimento pela estrada que me permitiu chegar aqui em 35 minutos vivo, só com milagre. Ando muito bem de santo para aqui chegar porque parece que ninguém da Prefeitura Municipal de Porto Alegre se dirigiu, nos últimos tempos, ao Lami, senão teria vergonha de dizer que o Lami pertence a Porto Alegre. Eu, se fosse o governador deste Estado, liberaria o Lami para emancipação. Sou contra a emancipação, liberaria pelo menos para não ter vergonha do que está instalado em termos de cratera no leito da estrada do Lami e no início da Estrada do Varejão. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha): Com a palavra, o Ver. Ennio Terra.

 

O SR. ENNIO TERRA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, às vezes ouve-se na imprensa determinadas notícias que por mais que se faça reflexão não consigo entender. O Ver. Frederico Barbosa veio aqui falar a respeito da criança, da educação, uma das coisas mais importantes, que necessita este País. A Verª. Teresinha Irigaray, Presidente da Comissão Externa sobre os Assuntos do Menor, nós temos convivido ao longo do tempo a situação em que se encontra o menor neste País. O PDT, no seu bojo, nos seus discursos, a coisa que mais se preocupa é com a educação do menor neste País. Eu tenho conhecimento próprio por pessoas da minha família sobre o SESI. Eu não posso entender o que está acontecendo neste País. O Governo da Nova República, que me parece que querem extinguir o SESI. Ora, uma instituição que é mantida pela Federação das Indústrias deste País, aonde vem dando formação, educação, vem dando a estes meninos que não têm oportunidade de chegarem à faculdade, a oportunidade de quando saírem da escola terem o seu emprego seguro.

Hoje, pela manhã, eu ouvi através da rádio um noticioso que me deixou muito triste, enquanto nós estamos lutando para que o Governo abra mais escolas profissionalizantes, o Governo quer fechar uma instituição, que o Governo não tem a mínima participação, uma instituição particular que dá oportunidade para esses jovens que andam atravessando as ruas, amanhã possam ter a felicidade de construir o seu lar e ter uma profissão que lhe assegure o direito de manter a sua família.

Nobre Ver. Coulon, gostaria que V.Exa. me ajudasse a fazer uma reflexão sobre o que está acontecendo no país. Eu tenho certeza que não são todos que pensam como alguns da Nova República, mas está ocorrendo. Nós aqui, Verª. Teresinha Irigaray, estamos fazendo um trabalho em cima do menor que não tem oportunidade e o próprio governo quer tirar as instituições que já estão formadas.

 

A Sra. Teresinha Irigaray: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Realmente, Ver. Ennio Terra, é um problema preocupante que não deve ser só dirigido aos Vereadores da situação, como a todos, situação e oposição. O que me parece, Ver. Ennio Terra, e é lamentável, o que eu consigo conscientizar, é que não é agradável solucionar a política do menor. Eles não têm por que solucionar a política do menor, porque eles fazem, sempre, um jogo político em cima do menor e com o menor. Então, vejam as alternativas, as escolas, as proposições e há um critério em cima disso, Vereador, que me preocupa sobremaneira, quando parece que existem as soluções elas se fecham de uma maneira desconcertante, porque é um país que não há preocupação em, realmente, solucionar esse problema, porque disso vivem muitos e muitos políticos. Eu me parabenizo com V.Exa. pelo seu pronunciamento porque sempre quando fala sobre o menor ataca o ponto fundamental e básico de toda a estrutura deste país.

 

O SR. ENNIO TERRA: Muito obrigado pelo seu pronunciamento. Ver.Flávio Coulon, existe uma briga lá no Rio de Janeiro com o nosso ex-Governador Leonel Brizola com o ex-Senador e hoje Prefeito da cidade do Rio de Janeiro que passou para o PMDB, aliás, ainda está procurando um Partido. Ora, um programa que inclusive o Governador de Minas Gerais levou o homem que deu início àquelas escolas que estão formadas lá no Rio de Janeiro para quem quiser ver, simplesmente o Prefeito da cidade do Rio de Janeiro, não sei com que intenção, desativou aquele programa tão lindo que o nosso Governador Leonel Brizola vinha desenvolvendo lá no Estado da Guanabara. Portanto, cabe a nós, Ver. Caio Lustosa, o Senhor que é um homem inteligente, saber por que não se dá oportunidade para o menino carente. Nós sabemos que tem o Parobé, que foi uma instituição belíssima, que teve oportunidade de formar vários engenheiros, a própria indústria, todo o aluno que saía dali, formado, a indústria absorvia. Eram os primeiros classificados. Não posso entender. Tem uma lei onde está sendo constituída a Carta Magna da Nação, o Governo quer acabar com a instituição das mais nobres que temos neste País.

 

O Sr. Flávio Coulon: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Ver. Ennio Terra, sabe muito bem V.Exa. que eu sinto um desconforto muito grande, em saber, em pensar que o PMDB dá sustentação para este Governo do Sr. José Ribamar Sarney. Mas, a bem da verdade, é preciso que se diga que a extinção de SESI, de SENAC, etc, não é uma medida governamental. Ela surgiu no Projeto da Constituinte, não se sabe de onde, quem é o autor, quem propôs, simplesmente se sabe que ela passou numa comissão, o que é grave, diga-se de passagem. Mas sem querer defender o governo, eu acho que é difícil querer defender o governo, mas eu acho que nesta questão específica o Governo Federal não tem nada a ver, é uma coisa que se passou dentro da Constituinte. Em relação a sua perplexidade quanto ao comportamento do Prefeito Saturnino Braga, a título de discussão eu poderia levantar que existem algumas avaliações a respeito dos CIEPs, que dizem que aquele tipo de construção, aquele tipo de educação, tratamento, ele foge à realidade diária das crianças e isso estaria causando problemas. Parece-me, de certa maneira, que isso tem uma certa dose de razão, porque, quando há poucos dias em reunião com lideranças comunitárias, aqui, da periferia, para debatermos o Projeto Casa da Criança, chamou-me a atenção a revolta das mães em relação ao tipo de prédio, á grandiosidade dos prédios, ao fato de ser de concreto com azulejos, etc - elas falando - o que levaria as crianças a um ambiente que levariam-nas a não querer retornar para suas casas. Então, é dentro dessa linha que as coisas podem ser estudadas.

 

O SR. ENNIO TERRA: Às vezes, Ver. Flávio Coulon, as informações vão até os lares de forma incorreta. Pelo que sei, essas casas que serão construídas são prédios de acordo com o ambiente. Inclusive, tive a oportunidade de falar com o nobre Ver. Aranha Filho que elas não serão iguais ás construídas no Parcão. Não podemos evitar a realidade e elas serão construídas de acordo com o nível da vila. Na verdade, ao se fazer obras grandiosas, conforme V.Exa. citou o depoimento de mães, não se vai atingir os objetivos. Por isso, cabe-nos discutir agora e que se possa ter oportunidade de dar mais abrigo a essas crianças carentes e abandonadas nas vilas populares.

 

O Sr. Flávio Coulon: Só para lhe adiantar: esse pessoal da comunidade quer muito mais que a Prefeitura Municipal de Porto Alegre forneça mão-de-obra, pessoal, para cuidar das crianças, do que prédios.

 

O SR. ENNIO TERRA: Veja V.Exa. que às vezes essas crianças não têm nem onde se abrigar. Elas estão perambulando pelas vielas que há nas vilas. Portanto, se eles estiverem dentro de um quadrado onde possam ter uma orientação educacional, de saúde, de tudo, pelo menos estaremos dando a nossa contribuição. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Caio Lustosa.

 

O SR. CAIO LUSTOSA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, dentre os poucos títulos de minha vida pública e profissional está o de um dado momento de uma década de 70, ter prestado o meu trabalho ao estudo das minorias indígenas deste país. Minorias, mas que foram uma imensa maioria, de cinco milhões de criaturas quando aqui chegou o colonizador.

E tive a oportunidade, entre os muitos encontros, congressos, com a Igreja, com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, com advogados de várias partes do país, de me debruçar sobre calhamaços de leis desde os tempos coloniais até o chamado Estatuto do Índio, procurando garantir às comunidades indígenas o direito ao solo, o direito a sua identidade étnica, o direito a sua cultura, tão esmagados, tão espoliados pelas ditas civilizações que levam tudo de roldão. É de me deixar, realmente, estarrecido, a posição do Ministro da Justiça, Paulo Brossard de Souza Pinto, meu amigo pessoal, nos tempos em que lutávamos lado a lado pelo restabelecimento do estado de direito neste País cuja amizade pessoal ainda conservo. Mas, realmente, a posição de V.Exa. nas denúncias que tem feito em entrevistas - ainda reiteradas em um artigo sob o título: “A Emenda do SINE” no Jornal “Zero Hora” - não podem permanecer com minha indiferença ou meu silêncio. E só vou analisar essas posições sob o ponto de vista estritamente intelectual e cultural.

Não concebo, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, que uma figura de jurista do porte do Sr. Paulo Brossard de Souza Pinto confunda Estado com Nação. A sua rebeldia pelo fato de o SINE, e não só o SINE, os antropólogos todos da Universidade de São Paulo, o maior centro de cultura deste País, os integrantes das áreas de ciências humanas da SPPC, advogados que, como eu militavam e militam nesta área, como Dalmo de Abreu Dallari, sem dúvida nenhuma, a figura mais insigne, da defesa dos direitos humanos e coletivos deste País, eu não concebo que o ex-Senador Paulo Brossard, hoje, Ministro da Justiça, venha dizer que a reivindicação para que as comunidades indígenas sejam consideradas como nações diferenciadas e esta diferenciação decorre de uma análise da moderna antropologia e etnologia no mundo inteiro - venha dizer que esta reivindicação, inclusive trazida por associações de defesa dos direitos indígenas do mundo europeu, se trate de uma conspiração em favor de interesses de exploradores de minérios. Me somo com Luiz Fernando Veríssimo quando diz hoje em sua coluna que não viu o Sr. Paulo Brossar rebelar-se até agora contra o triste papel retrógrado da UDR e de seu mentor máximo da direita neste País, Ronaldo Caiado. Não houve nenhuma rebeldia de parte do Sr. Paulo Brossard contra esta figura que tenta segurar o processo de reforma agrária, não para os índios, mas para os milhões de sem terra. Quero dizer que peca o Ministro da Justiça quando diz que isto é uma elaboração do CIMI, Conselho Indigenista Missionário que, segundo, ele, seria uma entidade de raízes estrangeiras e alienígenas a conspirar contra o patrimônio mineral do País. Que isto seria uma invenção apoiada em grupos de aventureiros da exploração mineral. Quero dizer que, em 1981, quando fazíamos aqui o Congresso Pontes de Miranda da Ordem dos Advogados do Brasil, esta proposta, para que as nações indígenas fossem consideradas como nações diferenciadas, não como Estados dentro do Estado Brasileiro, que queremos democrático, pluralista, mas justo sob o ponto de vista social e econômico, mas como Nações diferenciadas com direito à terra, a todo o seu patrimônio, inclusive o mineral, e com direito a identidade de suas culturas que não têm nada a ver com a cultura do mundo europeu, dito civilizado, esta proposta já foi aprovada em 81. E aqui se encontrava, era Senador na época, o hoje Ministro Paulo Brossard de Souza Pinto. E foi aprovado e incorporado naquela proposta de uma Constituição democrática para o Brasil. Não por ingerência do CIMI, de religiosos estrangeiros, conspiradores contra a Nação brasileira e tudo o mais. Inclusive é desinformado o Ministro da Justiça fazer colocações como esta de que se pretende criar uma variedade de nações para dividir e para jogar os membros da nacionalidade brasileira uns contra os outros.

 

O Sr. Kenny Braga: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Eu quero me parabenizar, do fundo do coração, com a linha de raciocínio desenvolvida por V.Exa., na tribuna. Eu pretendia, inclusive, Ver. Caio Lustosa, abordar este mesmo assunto aqui na Câmara Municipal de Porto Alegre.

Eu fiquei estarrecido, espantado, com a forma agressiva do Sr. Paulo Brossard no encontro que teve com Dom Luciano Mendes de Almeida em Brasília. Nunca, em nenhuma época de sua vida, o Ministro da Justiça se mostrou tão indignado, como neste encontro, para Dom Luciano Mendes de Almeida, palavras duras, palavras agressivas, palavras do xerife das multinacionais; para os jagunços da UDR, que se armam à vista do Regime, nenhuma palavra de admoestação ou de censura. Então, é um comportamento absolutamente incompreensível, o do Ministro da Justiça, que se diz, inclusive, católico apostólico romano. Pois se há um trabalho digno, sério e honesto neste País, é este desenvolvido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, através do CIMI, de proteção das minorias indígenas, que só não desapareceram totalmente porque têm esse tipo de proteção. Então me parabenizo, e acho que esta Casa, que conhece o trabalho do CIMI, da Igreja Católica, e a competência e excelsa personalidade de Dom Luciano Mendes de Almeida, deveria fazer um Voto de Repúdio, neste Plenário, ao comportamento do Ministro da Justiça, que não está a serviço do Brasil nem da nacionalidade, mas sim de uma minoria de exploradores das terras dos índios, que querem abrir as reservas indígenas, para o enriquecimento mais rápido das multinacionais e transacionais, que mandam no Brasil, no Governo José Sarney e no Sr. Paulo Brossard.

 

O SR. CAIO LUSTOSA: Agradeço-lhe e me congratulo com seu pronunciamento. Concluo, dizendo que nós, integrantes da Associação Nacional ao Índio, estamos dispostos e convidamos, publicamente, o Sr. Ministro da Justiça para debater esta questão, relacionada com o direito dos povos indígenas brasileiros, e dizer a ele que é pena que, com seu vasto e ilustrado cabedal jurídico, ele não tenha tido a oportunidade de ter lido, por exemplo, uma obra que se chama “O Índio Brasileiro na Revolução Francesa”, uma das primeiras obras assinadas por Afonso Arinos de Mello Franco, que hoje se encontra lá, na Constituinte, e insuspeito integrante, hoje, inclusive, do Partido da Frente Liberal. E lá, nessa obra dos anos 30, há mais de cinqüenta anos, no patrimônio cultural brasileiro se encontra uma advertência produzida no século XVI, por Michel de Montaine, quando dizia que os chamados povos civilizados não podiam compreender os povos indígenas, porque os desconheciam, e só pode-se amar aquilo que se conhece. Fique, pois, o Ministro da Justiça com este desafio público que fazemos em nome das entidades de defesa dos direitos indígenas do Brasil, para um debate sobre esta questão, em toda a extensão que desejarem.

 

O Sr. Flávio Coulon: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Em primeiro lugar, gostaria de me congratular com o seu pronunciamento e subscrevê-lo plenamente. O único reparo que faria seria no momento em que V.Exa. se referiu ao nosso Marquês do Pombal como desinformado. Eu sei porque V.Exa. usou este adjetivo, mas eu gostaria de me contrapor a ele. O nosso Marquês do Pombal não é nada desinformado; pelo contrário, ele é muito bem informado.

 

O SR. CAIO LUSTOSA: O que torna muito mais graves as posições de S.Exa. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Informo aos Srs. Vereadores Líderes da necessidade de realizarmos uma reunião conjunto, após a Sessão Ordinária, uma vez que há cinco projetos prontos e que necessitam ser submetidos à Mesa.

Com a palavra, o Ver. Jorge Goularte, por cessão de tempo do Ver. Cleom Guatimozim.

 

O SR. JORGE GOULARTE: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu agradeço ao Ver. Cleom Guatimozim o tempo que me cede e agradeço à Mesa, por retroceder numa decisão tomada. Aliás, eu vou falar sobre isto, sobre a revisão de um posicionamento. Procurei, ontem, o Sr. Prefeito Municipal e ponderei a ele que o Veto aposto no meu Projeto, aprovado por esta Casa, de criar nos bairros de Porto Alegre e nas Vilas Populares, centros integrados de serviços essenciais, não era justo, pois o meu Projeto não tinha nada que pudesse ser considerado contrário aos interesses públicos. Para satisfação minha, ocorreu uma destas coisas que se deve citar, quando necessário. O Prefeito Municipal disse que reconhecia as atitudes tomadas de maneira errada e que reconsideraria aquele ato porque entendia que era de grande relevância o projeto deste vereador que visa levar à população carente as condições, embora precárias, mas essenciais à vida humana, que são a saúde pública, segurança pública, comunicação e transporte. Diante desta afirmação do Prefeito Municipal não apenas louvo sua atitude como agradeço a compreensão. Política se faz assim, procurando o bem-estar comum. Por este motivo estou aqui na Tribuna de público dizendo que agradeço e louvo essa atitude porque acho que as pessoas devem voltar atrás quando consideram que erraram em determinada decisão. Isto é válido e importante. Apenas as pessoas radicais e sem grande inteligência permanecem no erro, insistem no erro, mesmo sabendo que este erro pode prejudicar outras pessoas que não a si mesmas. Por isto, nesta tarde, com tranqüilidade cumprimento o Sr. Prefeito Municipal por ter entendido o espírito do projeto que visa a criar nos bairros de Porto Alegre, vejam bem, há dez anos luto por isto e agora vejo que o Governo Federal tenta levar a todos municípios as unidades de saúde regionais e até de bairros, nas capitais, coisa que venho tentando há mais de dez anos, que é levar aos bairros, em sistema de mutirão, pequenos centros integrados de serviços essenciais que contariam com um posto policial, um posto de saúde pública, telefone público, transportes e sanitários públicos. Vejam que é um projeto modesto e simples, mas que visa atender a comunidade nessa situação mais premente, mais necessária e visa, acima de tudo, a descentralizar do Pronto Socorro o atendimento de pequenos fatos ocorridos como uma criança que se pisou ou que raspou o joelho na terra tendo que lavar e passar um mertiolate ou alguma coisa neste sentido que poderia ser atendido por estagiários da Faculdade de Medicina que têm uma dificuldade muito grande de aprendizado. Eu digo isso pela minha filha que está no quarto ano de medicina e que tem que se deslocar às vilas populares, o que é muito bom, para atender a população em condições precárias, o que é muito ruim. Se tivesse um centro integrado, um postinho para atender a população, esta população seria tranqüilamente atendida com a descentralização do atendimento que hoje o Pronto Socorro dá.

Por isso, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu, que sou um homem completamente independente nas minhas atitudes, modéstia à parte sempre fui, hoje faço um elogio ao Prefeito Municipal por ter reconhecido que errou ao vetar um projeto de minha autoria que visava levar os Centros Integrados de Serviços Essenciais á população mais carente. Diante disso, Ver. Hermes Dutra, eu vou ter que procurar uma forma de reapresentá-lo se não agora, no início do próximo ano, com a tranqüilidade que não será mais vetado e que será utilizado em Porto Alegre para atender a população especialmente a mais carente das vilas e dos bairros.

 

O Sr. Hermes Dutra: V.Exa. permite um aparte?

 

O SR. JORGE GOULARTE: Com imenso prazer, Vereador. V.Exa., se me permite, sempre me honra com os seus apartes.

 

O Sr. Hermes Dutra: São encômios e alvíssaras das quais eu não sou merecedor, Vereador. Mas eu queria fazer a seguinte colocação: eu até acho muito bonito o Sr. Prefeito reconhecer a V.Exa. o seu erro. Agora, vou usar uma expressão de V.Exa., “De abraços só não chegam!” Tem que ter uma coisa concreta, reconheceu que errou e vetou; passou o veto? Sabemos que não, porque V.Exa. tem uma liderança muito grande na Bancada do PDT, para não dizer outras coisas. Então, não se consegue derrubar um veto. Sabe qual seria uma atitude digna do Sr. Prefeito, Vereador? Era ele encaminhar um Projeto e colocar a Exposição de Motivos, reconhecendo que agiu mal, corrigindo a injustiça e encaminhando um projeto do mesmo teor.

 

O SR. JORGE GOULARTE: Esta poderá ser uma saída, que seria mais rápida, mais eficaz. Agradeço a V.Exa. a sugestão. Aí não seria necessário que eu esperasse o término deste ano para reingressar novamente no próximo ano, o que demandaria um tempo muito grande. Eu conheço os homens públicos quando estão errados, e acho que isto é de extrema validade. Espero ver concretizada esta minha luta de mais de 10 anos. Por que sei que isto é necessário? Na Vila Santa Luzia, Caiu do Céu; sei o que faltava para nós, lá, para nós vileiros. Então veja, Ver. Kenny Braga, o que faltava para nós. Um pontilhãozinho de madeira, um bico de luz, uma peninha d’água, um postinho de saúde, um postinho policial - porque as brigas são freqüentes lá. Então, diante disto, por conhecer este problema, é que venho lutando há mais de 10 anos por esses centros integrados. Parece-me felizmente, que vão sair, pela boa vontade do Prefeito Municipal e porque é uma coisa muito válida e importante. Fica o reconhecimento que eu quero enaltecer, realçar, enfatizar, pois eu acho de extrema validade, coisa que muitas pessoas devem fazer e não o fazem, reconhecerem quando estão errados e pedirem desculpas por atos que praticam.

 

O Sr. Kenny Braga: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Vereador, eu posso entender como uma manifestação civilizada e de alto nível de convivência política a manifestação que V.Exa. faz, agora, da Tribuna. Porque aqui nesta Casa V.Exa. é adversário do PDT, adversário político do Prefeito Alceu Collares. V.Exa. não é inimigo do PDT, nem do Prefeito Alceu Collares. Existem alguns Vereadores nesta Casa que traçaram um rumo de oposição sistemática ao Prefeito e não se afastam deste rumo, desta oposição sistemática nem quando acontecem trovoadas, relâmpagos sobre Porto Alegre. Então, esta manifestação deve servir como exemplo de civilidade, de convivência política para outros Vereadores que fazem oposição sistemática ao Prefeito só por fazerem oposição sistemática.

 

O SR. JORGE GOULARTE: Agradeço a V.Exa. Eu digo que o que é bom para Porto Alegre é bom para nós, Vereadores, e, particularmente, para mim que foi extrema valia e de alta relevância o reconhecimento do Prefeito Municipal e dou os meus elogios e os meus cumprimentos da Tribuna. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Flávio Coulon em Comunicação de Líder.

 

O SR. FLÁVIO COULON: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Ocupo este tempo de liderança para colocar dois assuntos rapidamente. O 1º deles é para me congratular quer como Vereador, quer como Bancada do PMDB, com o Ver. André Forster, da Metroplan, que conseguiu revogar uma resolução do Conselho de Tráfego do DAER que vigia desde 1963, que aumentava em 30% o valor das passagens entre as 23h30min e às 4h30min nos ônibus intermunicipais. Desde 1963 os trabalhadores que tinham que ir para casa entre as 23h30min e às 4h da madrugada pagavam nada mais do que 30% de acréscimo nas passagens. E agora, graças à interferência e a sensibilidade do Ver. André Forster e ao seu trabalho, esta taxa foi abolida e ficou uma tarifa única, significativa uma redução de 30% no valor destas passagens intermunicipais.

Esta medida dá uma idéia do interesse e de como é importante a presença de um Vereador afeto aos problemas municipais e intermunicipais na condução de órgão que trata das coisas da Cidade e das relações de região metropolitana. De modo que esta realização é mais uma realização da nova Administração do Estado, da nova Administração do PMDB no Estado que conseguiu esta vitória para os usuários dos transportes intermunicipais na região da Grande Porto Alegre, Ver. Nilton Comin, 30% mais barato o transporte, ou seja, era cobrado um adicional sem razão nenhuma de ser desde 1963 e agora este adicional foi abolido.

Vou-me referir, rapidamente, já que é possível que um destes Vereadores há pouco referido pelo Ver. Kenny Braga, que sistematicamente fazem oposição ao Prefeito Alceu Collares, como coisa que o Prefeito Alceu Collares fosse um super homem ou um superdeus que não merece nenhuma crítica, mais uma vez, trago - e voltarei amanhã - com uma notícia muito importante da “Zero Hora” de hoje, “em vinte meses Porto Alegre terá seu Teatro Municipal”. Uma notícia que enche de júbilo a Cidade. É uma notícia importante, mas que, em seu bojo, traz uma demonstração de autoritarismo do Sr. Prefeito que se julga dono da Cidade e de seus espaços. Ele simplesmente pega uma causa muito boa, o Teatro da Cidade, e já determina que o Teatro Municipal vai ser aqui, próximo á Câmara, cedendo-lhe um terreno, inclusive. A Cidade é dele. Ele já decidiu que o Teatro vai ser aqui. O Conselho do Plano Diretor, a Secretaria Municipal de Planejamento, absolutamente, nada. Está aqui a fotografia dele com a Secretária Neusa Canabarro, já decidido. Aliás, o Teatro Municipal é um assunto que já tramita há tempo. Não é realização do Prefeito. Mas, a sua localização é uma coisa que deve ser estudada, pensada, mandada para esta Casa para que seja votada a destinação do local. Então, mais uma vez, tenho certeza, como um desses oposicionistas radicais, porque simplesmente quero respeito, respeito ao Poder Legislativo, às coisas da Cidade. Gostaria que o Sr. Prefeito escolhesse o local, mandasse para esta Casa, mandasse o Planejamento verificar se o local atende, etc. Mandasse para esta Casa a documentação para análise. Quer-me parecer que o Teatro Municipal, de uma maneira, já começa se inserir naquele grande estudo, naquele grande projeto chamado Praia do Guaíba. Ou seja, naquele em que as coisas foram colocadas à revelia de todos e depois virá como um fato consumado. Então, eu faço votos que o Prefeito, que inclusive, já se escalou para trabalhar na primeira peça do teatro municipal de Porto Alegre, fará o “peludo”, o camarada que após cada número no picadeiro do circo prepara o picadeiro para o espetáculo seguinte, já está escalado...

Faço votos que o Prefeito, que já transferiu para o empresário Jofre Miguel a atribuição de construir o Teatro Municipal da Cidade, que as coisas sejam novamente bem feitas, para que não fiquemos aqui sendo taxados de oposicionistas radicais, odiosos, e assim por diante, por nossos caros colegas e amigos do PDT. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Liderança com o PDS. Com a palavra, o Ver. Hermes Dutra.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, serei breve nesta Comunicação de Liderança. Até agora não ouvimos o Executivo Municipal falar o que vão fazer com o salário dos funcionários municipais. Até o Governo Federal, Ver. Kenny Braga, que V.Exa. critica tanto, até o Governo do PMDB, já anunciou que vai dar um aumento, “mixuruca”, é verdade, mas vai dar um aumento no fim do mês de seis e pouco por cento. Pois a administração da Cidade até agora não se acusou. Não quer pôr a mão no bolso. E o funcionário público municipal que já estava com seu salário defasado nos últimos meses, com esta inflação, a defasagem aumentou muito mais. Como não pude dispor de tempo na hora, não pude trazer os cálculos que fiz, o que farei ainda esta semana, talvez para ser contestado pelo líder do PDT, mostrando as perdas, os prejuízos dos funcionários públicos municipais. Porque é verdade que a Prefeitura não pode ter toda a sua arrecadação voltada para pagar seus funcionários. Isso é verdade, é uma realidade que todos nós concordamos. Agora, não é menos verdade que por causa disso vai matar o funcionário público de fome. Porque, senão, não vai nem conseguir arrecadar esse pouco que diz que arrecada, porque o funcionário com fome não vai conseguir trabalhar direito.

É hora de o Sr. Prefeito Municipal vir a público dizer o que pretende fazer com a política salarial do Município. Vai acompanhar o Governo do PMDB, que está dando essa mixaria de 6%? Mas é alguma coisa. Ou quem sabe o PDT, na sua visão socialista da questão, vai dar um aumento maior para o funcionalismo público municipal? Eu até espero que sim, porque já vimos que os parâmetros da democracia social o PDT não achou, porque esses parâmetros que utilizávamos dava salário bem maior para o funcionário público municipal.

Então, é necessário que pouco ou muito o Sr. Prefeito Municipal diga o quanto vai dar, até porque, os funcionários públicos municipais estão angustiados.

Quando é que foi o último aumento? V.Exas. Lembram quando é que o funcionalismo público municipal teve o último aumento? Não lembram. Já faz tempo! Não foi ontem! Não foi o mês passado! Não foi no mês anterior! Foi depois daquela greve, lembram-se? Aquela greve, lá pelo mês de maio. De lá para cá, o funcionário público municipal está esperando, esperando, como naquela música do Chico Buarque de Holanda. Quer dizer, na verdade, não se pode aceitar que o Executivo municipal continue assim. Eu já nem vou pedir nada, Ver, Pedro Ruas, que a Administração socialista faça o que fez o Governo do PDS que dava um básico de 1.55 salário mínimo para os servidores municipais. Eu nem vou pedir isso. Mas quem sabe a Administração socialista dá 1.3, 1.4, quem sabe, menos do que dava o PDS, mas um pouquinho mais do que essa miserabilidade que está recebendo o funcionário público municipal atualmente. E o que é mais grave é que, angustiado, o funcionário não enxerga o norte a sua frente, porque o Prefeito faz ouvidos de marcador a este clamor dos funcionários e não diz nada. Eu já não falo no Secretário da Administração, porque nós sabemos que a administração socialista em seu método democrático, repousa na boa vontade do Prefeito Municipal. Então, eu faço da tribuna um apelo ao Prefeito para que ainda nesta semana, se possível, diga da sua magnanimidade para com os funcionários públicos municipais e diga quanto vai dar de aumento este mês. Até por que eu acredito que V.Exa. vai dar aumento, porque, vejam bem, se até o PMDB está dando um aumento de 6 e pouco por cento, será que o PDT não vai dar? Terá que dar e eu acredito que o Sr. Prefeito ainda nesta semana anuncie isto. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Liderança com o PDT. Ver. Kenny Braga.

 

O SR. KENNY BRAGA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, é muito bom quando não se tem compromisso direto com a administração. Os comportamentos mudam com o passar do tempo, por que em matéria de pagamento do funcionalismo público do PDS, a quem o Ver. Hermes Dutra servia diligentemente, foi uma verdadeira catástrofe. Mas hoje, porque está descompromissado com o poder, porque não deseja que a administração do PDT faça nenhum investimento social á cidade, porque deseja comprometer todo o orçamento da Cidade no pagamento do funcionalismo público, o Ver vem à tribuna contra virtudes que a administração a qual servia nunca teve. Nós não deixamos de reconhecer, Ver. Hermes Dutra, que o funcionalismo público municipal pode e deve ganhar melhor, pelo serviço que presta à administração municipal de Porto Alegre, mas também não podemos deixar de reconhecer que uma administração não existe exclusividade para pagar a folha do funcionalismo público. A administração do PDT foi eleita para gerenciar os problemas de toda a comunidade porto-alegrense, que é constituída por milhares de pessoas e não única e exclusivamente por 16 mil funcionários municipais. É verdade que eles são importantes pela colaboração diária, séria, honesta e dedicada à Administração.

Mas muito mais importante é a comunidade porto-alegrense como um todo. E é com a comunidade, como um todo, que o PDT tem maior compromisso. Talvez quisessem que esta Prefeitura, que esta Administração fosse totalmente inviabilizada como outras administrações do Brasil, onde os Prefeitos não têm fôlego para colocar bica d’água, um paralelepípedo nas ruas da cidade, porque lhes falta dinheiro, porque lhes faltam recursos. Só que enquanto o PDT for administração em Porto Alegre este descalabro não vai acontecer. Temos compromisso com a comunidade, com a maioria da população de Porto Alegre e haveremos de cumprir estes compromissos até a última hora da nossa Administração. Não será com demagogia barata que haveremos de abandonar os nossos propósitos. Aceitaríamos as lições, se a Administração do PDS fosse um modelo de administração. Nunca foi modelo de administração! Tanto é verdade que deixou a Prefeitura sem nenhum projeto importante, revelando absoluta indigência em matéria de administração. Foi necessário que a nossa administração criasse projetos para tirar esta Cidade do marasmo em que se encontrava a partir de vinte anos de Prefeitos nomeados. Então, não aceitamos lições de administração de quem não soube administrar a cidade. Aceitaríamos, isto sim, se a Administração do PDS fosse um modelo de administração. Portanto, Vereador Hermes Dutra, deixe que o PDT realiza o seu governo, deixe que o PDT faça realizações importantes em benefício da comunidade e deixe que o PDT prossiga esta trilha de não empenhar todo o orçamento única e exclusivamente para pagar funcionários. Não arredaremos, pé desta disposição mesmo que venhamos a sofrer pressões terríveis. E sabemos sair delas e nos safar delas. O nosso compromisso com o povo é com a maioria, é com a comunidade e não com grupos, por mais importantes que eles sejam. Temos a visão do todo, a visão da planície, e não a visão estreita e demagógica de quem quer ajudar, única e exclusivamente, uma classe ou outra. O nosso Partido é pluriclassista; o nosso Partido se destina - e é a sua vocação histórica - ao serviço das minorias desassistidas da periferia da população de Porto Alegre. Pretendemos aumentar a renda do Município, não para servir a burguesia nem a classe média alta, mas sim para servir o povo das vilas, tão desassistido por todos esses Governos conservadores, reacionários e incompetentes que passaram, nos últimos anos, pela Administração Municipal de Porto Alegre. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Comunicamos a realização, amanhã, às 14 horas, de Sessão Especial, nos termos dos artigos 199 e 200 do Regimento Interno, para ouvir o Sr. Prefeito Municipal acerca do Projeto Praia do Guaíba.

Informamos e convocamos os presentes para a realização, logo após a presente Sessão, de Reunião conjunta de Comissões para análise de Projetos de Lei em tramitação na Casa.

Por último, convidamos os presentes para a Sessão Solene a se realizar nesta data, destinada à entrega do título honorífico de Cidadã Emérita à Sra. Rose Marie Reis Garcia.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 15h56min.)

 

* * * * *